Depressão Pós Parto

08-02-2010 14:19

 Depressão Pós Parto

 O estudo emocional em mulheres em estado de gravidez vem colaborando no entendimento das alterações físicas e psicológicas da grávida, assim como a medicina traz compreensão sobre as diversidades desse fenômeno. Trata-se de um momento em que a mulher vive um papel para o qual não basta querer ocupar, precisa estar em condições de fazê-lo. Exercê-lo, por mais comum que seja, ainda é um processo fascinante.

As ansiedades vividas na eminência do parto são constituídas por diversos fatores, os quais merecem ser abordados por diferentes aspectos da psicologia da psicanálise e da medicina.

Há, porém uma falta expressiva de atendimento às mulheres no pós-parto, momento esse de grande representação para a recém-mãe que muito pode ter sido instruída quanto aos cuidados com o bebê, mas ainda despreparada para enfrentar as reações emocionais intensas e imprevisíveis para alguém que acaba de dar à luz.

É comum o sentimento de vergonha e de estranheza com relação a sentimentos que parecem "errados". Por isso muitas mulheres calam-se e sufocam graves dificuldades emocionais, ocultando-as das amigas, do seu médico e da família e ainda carregando um sentimento de culpa vivenciado sigilosamente.

Afinal, foi-lhes dito como proceder nos cuidados com o bebê, mas não como proceder com reações da ordem emocional/existencial que possam surgir, como ansiedade, sensação de esvaziamento, depressão, labilidade emocional, mudança de identidade, hipersensibilidade, dificuldade na adaptação ao novo ritmo de vida e a confrontação do bebê real com sua imagem idealizada.

Todos esses sentimentos são particularmente acentuados quando se trata do primeiro filho. E, somando a isso, ocorrem as alterações hormonais e os afeitos de eventuais terapêuticas medicamentosas, às quais muitas mulheres precisam ser submetidas.

Despreparo e constrangimento, em geral, impedem que a mulher peça ajuda. E na maioria das vezes nem ela sabe como fazê-lo

Desinformação e confusão - Há uma carência na disponibilidade de estudos sobre a depressão pós-parto. Por isso informações referentes a essa situação não estão oferecidas às gestantes. Também falta a esses dados a devida valorização e, enquanto isso, mães desesperadas deixam de receber valiosos esclarecimentos sobre esse assunto. Desta forma, permite-se um temor em torno de algo que, por ser desconhecido, é ameaçador.

Analiticamente, sabe-se que o momento do parto é traumático para o bebê e que esse momento é revivido pela mulher quando esta dá à luz, e também que os graus de agravamento desse fenômeno estão ligados à qualidade da relação recém-mãe manteve com sua própria mãe.

Assim, assistimos pobres mães que jogaram seus bebês em latas de lixo e rios e arrependeram-se depois de serem submetidas a leis que desconsideram essas variáveis que interferem no equilíbrio psíquico do comportamento da mãe. Elas são punidas sem considerar-se o abandono social e desamparo emocional pelos quais possam estar passando e não recebem os cuidados que deveriam ter por direito e dignidade.

Nem mesmo os homens estão livres do transtorno.

Há de considerar-se também o aparecimento de estados psicóticos no homem associados a reações paranóides diante da paternidade.

Repercussões psíquicas como essa podem levar o recém-pai a evadir-se do lar, deixando a mulher em maior desespero e ampliando a questão que já abarca, além da equipe de saúde e a instituição, a sociedade e a família.

A mulher, tão bem romanceada nos dias das mães, homenageada como fonte de vida e personagem fundamental para o bem-estar da criança e da família, fica em muitos casos extremamente só em um dos momentos de maior crise em sua vida.

A hipocrisia social só permite admitir a importância do tema, mas não olhar profundamente e agir sobre ele.

A psicanálise pode e deve dar condições para essas questões. Que por alguma razão não têm atingido essa demanda. O psicanalista (espera-se que isso seja um dia reconhecido) é uma peça fundamental no trabalho preventivo, embora ainda estes profissionais não possam atuar nas instituições de saúde, sendo o psicanalista mais utilizado para "apagar o incêndio", depois que ele já ocorreu.

Certamente não por haver interesse pela qualidade de vida e pelos direitos dos cidadãos e pelo fato de interesses pessoais serem sobrepostos ao da coletividade.