Depressão na Adolescência: Como lidar...

08-02-2010 14:20

 Depressão na Adolescência: Como lidar...

 O rosto é o nosso melhor cartão de visitas e pode falar antecipadamente muito sobre nós.

Porém, aspectos mais íntimos de nossa personalidade com certeza estão muito além da pele de nossos rostos. A depressão pode estar escondida atrás de uma expressão facial que não necessariamente é de tristeza.

Todos nós já tivemos momentos de tristeza, que fazem parte da vida e dos ciclos de humor.

Já a depressão é uma doença que pode ter origem externa, como um luto recente, desemprego, choque cultural entre outras causas, sendo chamada de depressão reativa.

Além disso, pode também ter origem interna como conseqüência de algumas doenças clínicas como câncer, reumatismo, Aids etc, ou de desequilíbrio nos neurotransmissores, substância bioquímicas do organismo que atualmente podem ser suplementadas com medicação específica.

Muitas pessoas acreditam que depressão é uma desilusão ou desinteresse pela vida, natural do envelhecimento, o que não é verdade.

A depressão na senescência existe sim e é tão importante quanto em qualquer outra idade, mas não é exclusiva desta fase e necessariamente ocorrerá.

Ela afeta crianças, jovens e adultos, porém, com manifestações clínicas específicas a cada faixa etária.

A adolescência é uma fase na quais as transformações ocorrem por atacado. As mudanças físicas e psicológicas não se dão sincronizadamente e existem dois grandes choques envolvidos: o primeiro é quando o adolescente se olha no espelho e já não encontra mais seu rosto conhecido; o segundo é que o rosto novo também não é exatamente aquele que ele sonhava. Ou seja, existe um fatalismo biológico que não responde ao seu desejo e isso o assusta e frustra.

As transformações físicas

Aquele narizinho de criança vai dar lugar a um nariz de adulto sem que o resto do rosto acompanhe a mesma velocidade de mutação. O resultado é um momento transitório - que parece eterno ao jovem - em que o corpo, ainda em transformação, apresenta traços que destoam entre si.

O desenvolvimento de qualidades psicológicas como tolerância, capacidade de suportar frustrações e construção da auto-imagem corre em paralelo.

O corpo já conhecido no espelho dá lugar a um corpo novo, que vai sendo esculpido pelo tempo.

A ansiedade da mudança associada ao medo do desconhecido produz uma mistura explosiva. O jovem se frustra, pois o ritmo biológico não necessariamente combina com o psicológico. É toda essa ebulição de transformações e sentimentos vêm turbinada pelo aumento hormonal, que traz à tona as questões da sexualidade e novos ritmos.

Em geral, o jovem tem um alto nível de auto-exigência, principalmente no que diz respeito ao aspecto físico. Isso é perfeitamente compreensível, afinal ele acabou de sair do período da infância, no qual todos nós sabemos muito bem o que acontece com quem é diferente: a gozação.

Logo começam os apelidos depreciativos para quem tem orelhas de abano, nariz comprido, gordura em excesso etc. É nessa fase da vida que o desenvolvimento do aspecto social atinge um ponto muito importante, a vida em grupo.

Mas ainda há a dificuldade em se lidar com a diferença e o grupo ideal tem de ser constituído por "iguais", como se isso fosse possível. Mas o jovem o torna possível por meio de seus códigos de vestuário e palavreado, entre outros.

O adolescente sempre teve um corpo, mas é agora que começa a conhecê-lo verdadeiramente. O mesmo se dá com as palavras. Ele já fala fluentemente há anos, mas há mudança na qualidade do que é dito. Seu discurso muda lentamente e por etapas, assim como ocorreu com seu corpo. Ele também tem dificuldade de se expressar em determinados momentos. As palavras que parecem lhe faltar são rapidamente substituídas por gírias vazias, palavras inexpressivas, mas que estão repletas de significados para ele. Um significado que ele ainda não consegue nominar, mas o qual espera ansioso que alguém entenda.

A impressão que ele tem é o de ser incompreendido, sendo que, na verdade está projetando a sua dificuldade de expressão no outro. Isso o angustia muito, além disso, seu comportamento é guiado por mecanismo de defesa da racionalização. Às vezes, uma conversa mais prolongada com um adolescente pode ser traduzida numa aula sobre aspectos do cotidiano do adolescente tais como: manobras radicais de skate, regras técnicas do futebol, músicas ou tendências da moda.

As pessoas mais próximas (pais e amigos) devem estar atentas às permanências de humor negativo, com repercussões físicas, como falta de energia e motivação, dificuldade para pegar no sono, dormir bem ou levantar pela manhã, problemas de apetite com aumento ou perca de peso, mal-estar físico com cansaço e dores crônicas.

O estado de humor não necessariamente é o de tristeza. Pode haver inquietações e irritabilidade. Em geral há o desejo de permanecer sozinho a maior parte do tempo. O jovem apresenta insegurança e pessimismo diante de decisões, diminuição da capacidade de concentração e memória, problemas de relacionamento em casa e na escola e desinteresse ou prazer em atividades cotidianas como esportes, músicas ou bate papo por telefone e internet.

A depressão pode ser uma doença silenciosa

O adolescente precisa que alguém que o ajude. Porém sua baixa estima contribui para a indiferenciação da origem da ajuda, seja ela do pai, de um amigo ou de um traficante. Mesmo porque, em alguns casos o jovem pretende atingir o pai a qualquer custo, mesmo que seja indiretamente, por meio de problemas com drogas. Então, deparamos com dois problemas graves: A depressão e o problema com as drogas, sendo que um potencializa ainda mais o outro.

Esta doença pode ser silenciosa, porém jamais passará despercebida por parentes próximos e amigos também próximos. Além disso, o sintoma da depressão de uma pessoa afeta consideravelmente o humor daqueles que estão próximos. É por esta razão que estejamos atentos e jamais ignoremos idéias ou comportamentos relacionados à morte ou ao suicídio manifesto pelo adolescente.

O primeiro passo é sentar e conversar, sem esquecer que a ajuda de um profissional pode ser fundamental.